Olá
pessoal, tudo bem? Hoje trago mais um post em parceria com o grupo Juntas Nós
Podemos (que você pode conhecer clicando aqui), dessa vez para tratar do
polêmico assunto da descriminalização do aborto e porquê ele deve ser
legalizado no nosso e em todos os países do mundo.
Clique
em continue lendo para saber mais.
A
legalização do aborto é uma pauta que já há muito tempo causa alvoroço na nossa
sociedade, particularmente e especialmente naquelas mais conservadoras e
religiosas como em nosso país, Brasil. No entanto, mesmo com toda a polêmica
que circunda o assunto, felizmente movimentos feministas atuais têm conseguido
erguer a voz para denunciar e expor comportamentos já não mais toleráveis e
reivindicar direitos que ainda, por incrível que pareça, continuam sendo
desrespeitados. Com isso, os olhos estão se voltando para a questão do aborto,
abrindo para discussão a possível descriminalização deste em países onde o ato ainda
é proibido, como está acontecendo no momento com a Argentina e em nosso país.
Abrir
a problemática para discussão em audiência pública no STF é um passo e tanto
para as mulheres brasileiras e nos traz uma pontinha boa de esperança de que
nossas necessidades serão atendidas, mas, por se tratar de um país extremamente
conservador e machista, ainda temos que lidar com comentários desinformados,
agressivos, egocêntricos e ignorantes. O objetivo dessa publicação, portanto, é
esclarecer algumas questões em relação aos contra-argumentos em relação à descriminalização
do aborto.
A
primeira coisa que o brasileiro precisa entender é que o aborto é praticado
diariamente, independentemente de ele ser a favor ou contra o ato. O aborto existe
e é praticado, tanto por mulheres pobres quanto por mulheres ricas. A diferença
básica entre estes dois grupos distintos é que um realiza um procedimento
seguro e no fim temos um final feliz, enquanto no outro os procedimentos são
arriscados e podem (e levam) à morte da mulher que abortou. Conseguem adivinhar
que grupo cabe em cada situação?
Em
2015, 503 mil mulheres realizaram o aborto ilegal no Brasil. Uma em cada duas
mulheres morre no Brasil devido à prática do aborto ilegal e em 48% dos casos
em que a mulher conseguiu sobreviver, precisou de internação devido a
complicações posteriores.
Conseguem
entender que tudo isso está e continuará acontecendo, independentemente de sua
legalidade? Entendem como isso não tem mais a ver com ser legal ou não, mas sim
em dar atenção à saúde dessas mulheres que correm risco de morte e complicações
por realizarem o aborto em clínicas clandestinas sem a segurança necessária
nesse tipo de procedimento? O aborto se tornou um caso de saúde pública, e
ignorar a morte e a situação precária dessas mulheres é literalmente ir na
direção contrária dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.
Outro
ponto muito abordado por contra-argumentos em relação à descriminalização do
aborto é a respeito do feto ser uma vida, e abortá-lo seria equivalente a um
homicídio ou assassinato. Mulheres que abortam são inclusive, por esse
argumento vago, chamadas de assassinas por isso.
Definir
quando começa a vida e quando ela termina, quando observado de uma ótica
pessoal e espiritual, é realmente um ponto complicado de se chegar em uma
concordância. Afinal, são diversas religiões e opiniões pelo mundo, e definir
apenas um ponto inicial e um ponto final universal seria, de certa forma, desrespeitoso.
No entanto, aqui estamos falando de questões e opiniões pessoais. Quando
falamos da questão biológica, são outros quinhentos.
Vocês
sabem quando um ser humano é considerado, de fato, morto? Quando há a parada
total e irreversível das funções encefálicas, ou seja, a famosa morte cerebral.
Sem nosso encéfalo e sem nosso sistema nervoso, todos os outros órgãos do nosso
corpo não funcionarão. Sendo assim, o controle central da sua vida encontra-se
no seu cérebro.
Partindo
desse ponto, é importante ressaltar que o aborto, se legalizado, será feito
apenas até a 12ª semana de gestação. Por que isso acontece? Porque, de acordo
com o estudo da embriologia humana, nosso sistema nervoso está, de fato,
formado, apenas após a 12ª semana. Isso quer dizer que antes disso, no período
em que será permitido o aborto, o feto não possui suas funções encefálicas. Não
possuindo suas funções encefálicas, logo, de acordo com a lógica da morte e da
biologia, o feto ainda não pode ser considerado ser humano, mas apenas um
punhado de células que posteriormente evoluirão para se tornar um ser humano,
caso a gestação seja levada adiante. E já aproveitando para matar dois argumentos
com uma única cajadada: sem o seu sistema nervoso formado não é possível sentir
dor, já que não existirão neurônios para transmitir as sensações.
Ninguém
será insensível ou insensato o suficiente para permitir a realização de um
aborto aos nove meses de gestação. Isso sim, seria desumano. Portanto, o aborto
realizado antes da 12ª semana de gestação não machucará e não “assassinará”
ninguém, pois ainda não existe alguém, de fato, para ser “assassinado”.
E
quanto aos preservativos e métodos contraceptivos? A galera do contra-argumento
adora utilizar esses artifícios para lançar o famoso discurso de que “só
engravida quem quer”. Infelizmente essa galera talvez não tenha estudado
direito, já que absolutamente nenhum método contraceptivo é 100% seguro. Não é
minha intenção criar paranoias, mas é preciso dizer: é possível engravidar
mesmo que se proteja de todas as formas possíveis. Pode ser mais difícil? Sim.
Mas, nunca impossível. E para exemplos reais, acessem esse link e passem as
fotos para a direita.
São relatos reais de mulheres reais que se preveniram para evitar a gravidez e
ainda assim engravidaram.
Além
disso, é necessário ressaltar a falta de informação de grande parcela da
população brasileira. É claro que para você, branco (a) da classe alta e com
acesso à educação em escola particular, a gravidez será uma consequência de
quem não se preveniu. Você, dentro da sua bolha de privilégios, teve acesso a
todo e qualquer tipo de informação desde que se conhece por gente. Mas, já parou
para pensar naquelas pessoas pobres, da favela, em sua maioria negras, que
estão mais preocupadas em não morrer por bala perdida ou sustentar a família?
Essas pessoas não vão receber o acesso à informação que você teve. E talvez,
quando receberem, já será tarde demais.
Nem
tudo pode ser explicado por simples “falta de vergonha na cara”. Às vezes a falta
é de informação, e às vezes a falta é na verdade de segurança nos métodos
contraceptivos. Ambos os fatores são extremamente capazes de implantar uma
gravidez indesejada em uma mulher.
A
religião é outro ponto importantíssimo na pauta dos argumentos do pessoal
conservador, e tudo inicia com o famoso discurso: “sou contra o aborto porquê
de acordo com a minha religião [...]”... e é aí que eu já devo parar a continuação
desse argumento. Sua religião jamais deveria ser exemplo ou regra para nenhum
assunto que envolvesse toda uma população. Sua religião foi uma escolha pessoal
sua e somente sua, e nada tem a ver a sua escolha com a escolha daquela mulher
que quer abortar. Para a nossa política, nossas leis e nossos direitos, de nada
deveria importar o que a sua religião pensa sobre o assunto, já que a sua
religião não é a única nesse mundo e nunca será (eu citaria o estado laico, mas
aparentemente já virou folclore brasileiro). Pode ser a maioria? Pode, mas
nunca a única. O que é a vida para você, não é a vida para outra religião, como
já bem discutimos anteriormente nessa postagem. Se a sua religião não permite
que o aborto seja realizado, é simples, não o faça. Mas, nunca, jamais, utilize
a sua escolha, sua fé e sua religião para determinar os direitos de toda uma
população de mulheres. Religião e política são duas coisas que jamais, em
hipótese alguma, deveriam ser misturadas.
Além
disso, é bastante irônico que tantos religiosos decidam atacar mulheres que
abortam, já que 66% das mulheres que abortam são católicas e 25% são
protestantes ou evangélicas. Chamar as próprias irmãs de assassinas vai de
acordo com o que sua religião apoia, mas permiti-las o direito de fazer o que
bem quiserem com suas vidas e seus corpos é abominável? A moral provavelmente
está invertida.
Esses
mesmos conservadores também se dizem pró-vida ao defender a criminalização do
aborto, mas também propagam discursos como “bandido bom é bandido morto”.
Afinal, de que vidas estamos falando? De todas ou apenas uma parcela delas? A
vida é preciosa quando ainda dentro do útero, mas a partir do momento em que a
criança nasce em um ambiente sem condição alguma de uma boa educação, saúde,
segurança e outros aspectos básicos, e sucumbe ao tráfico para sobreviver da
única maneira que encontrou, essa vida não é mais preciosa e deve ser
eliminada? Reproduzindo uma fala vista na internet, posso concluir o pensamento
de vocês: vocês não são pró-vida, são pró-nascimento. O que vem depois, não
interessa a vocês.
Por
fim, quero finalizar o assunto com o principal motivo pelo qual o aborto
deveria sim ser descriminalizado: a simples e pura escolha da mulher de
prosseguir com a gravidez ou não.
Por
muito tempo nossas escolhas e nossos desejos têm sido ignorados, nas mais
diversas pautas que podemos pensar. A forma como nos vestimos, os empregos que
queremos ter, as profissões que desejamos seguir, o que queremos estudar, etc. A
liberdade de escolha nunca foi algo facilmente concedido à mulher, e o aborto
está nesse meio.
Por
que nós, mulheres, responsáveis por carregar uma criança durante nove meses em
nosso ventre e posteriormente, na maioria das vezes, criá-la praticamente
sozinhas, não podemos ter o direito de decidir seguir ou não com uma gestação?
São nossos corpos, são nossas escolhas. Escolhas essas que seriam facilmente concedidas
caso fosse o homem o responsável por carregar o bebê em sua barriga e após o
nascimento criá-lo sozinho.
É
impressionante como em pleno século XXI, no ano de 2018, ainda precisamos
explicar por que a escolha de manter uma gestação, em um corpo que me pertence,
é necessária. É inacreditável como ainda precisamos explicar por que a
descriminalização do aborto é importante.
O
corpo é nosso, e as escolhas feitas sobre ele também deveriam ser.
Então
é isso pessoal, espero que os pontos abordados tenham ficado bastante claros e
espero que gere uma reflexão sobre a importância do tema no período atual do
qual vivemos. Deixarei logo abaixo alguns links de vídeos e artigos que possam
complementar a leitura da minha publicação e espero que façam bom uso destes. A
discussão, como sempre, está aberta para aqueles que forem civilizados.
Qualquer ofensa ou comentário agressivo será imediatamente excluído.
Até mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário