9 de ago. de 2018

Sobre a descriminalização do aborto

Olá pessoal, tudo bem? Hoje trago mais um post em parceria com o grupo Juntas Nós Podemos (que você pode conhecer clicando aqui), dessa vez para tratar do polêmico assunto da descriminalização do aborto e porquê ele deve ser legalizado no nosso e em todos os países do mundo.
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A legalização do aborto é uma pauta que já há muito tempo causa alvoroço na nossa sociedade, particularmente e especialmente naquelas mais conservadoras e religiosas como em nosso país, Brasil. No entanto, mesmo com toda a polêmica que circunda o assunto, felizmente movimentos feministas atuais têm conseguido erguer a voz para denunciar e expor comportamentos já não mais toleráveis e reivindicar direitos que ainda, por incrível que pareça, continuam sendo desrespeitados. Com isso, os olhos estão se voltando para a questão do aborto, abrindo para discussão a possível descriminalização deste em países onde o ato ainda é proibido, como está acontecendo no momento com a Argentina e em nosso país.
Abrir a problemática para discussão em audiência pública no STF é um passo e tanto para as mulheres brasileiras e nos traz uma pontinha boa de esperança de que nossas necessidades serão atendidas, mas, por se tratar de um país extremamente conservador e machista, ainda temos que lidar com comentários desinformados, agressivos, egocêntricos e ignorantes. O objetivo dessa publicação, portanto, é esclarecer algumas questões em relação aos contra-argumentos em relação à descriminalização do aborto.
A primeira coisa que o brasileiro precisa entender é que o aborto é praticado diariamente, independentemente de ele ser a favor ou contra o ato. O aborto existe e é praticado, tanto por mulheres pobres quanto por mulheres ricas. A diferença básica entre estes dois grupos distintos é que um realiza um procedimento seguro e no fim temos um final feliz, enquanto no outro os procedimentos são arriscados e podem (e levam) à morte da mulher que abortou. Conseguem adivinhar que grupo cabe em cada situação?
Em 2015, 503 mil mulheres realizaram o aborto ilegal no Brasil. Uma em cada duas mulheres morre no Brasil devido à prática do aborto ilegal e em 48% dos casos em que a mulher conseguiu sobreviver, precisou de internação devido a complicações posteriores.

Conseguem entender que tudo isso está e continuará acontecendo, independentemente de sua legalidade? Entendem como isso não tem mais a ver com ser legal ou não, mas sim em dar atenção à saúde dessas mulheres que correm risco de morte e complicações por realizarem o aborto em clínicas clandestinas sem a segurança necessária nesse tipo de procedimento? O aborto se tornou um caso de saúde pública, e ignorar a morte e a situação precária dessas mulheres é literalmente ir na direção contrária dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.
Outro ponto muito abordado por contra-argumentos em relação à descriminalização do aborto é a respeito do feto ser uma vida, e abortá-lo seria equivalente a um homicídio ou assassinato. Mulheres que abortam são inclusive, por esse argumento vago, chamadas de assassinas por isso.
Definir quando começa a vida e quando ela termina, quando observado de uma ótica pessoal e espiritual, é realmente um ponto complicado de se chegar em uma concordância. Afinal, são diversas religiões e opiniões pelo mundo, e definir apenas um ponto inicial e um ponto final universal seria, de certa forma, desrespeitoso. No entanto, aqui estamos falando de questões e opiniões pessoais. Quando falamos da questão biológica, são outros quinhentos.
Vocês sabem quando um ser humano é considerado, de fato, morto? Quando há a parada total e irreversível das funções encefálicas, ou seja, a famosa morte cerebral. Sem nosso encéfalo e sem nosso sistema nervoso, todos os outros órgãos do nosso corpo não funcionarão. Sendo assim, o controle central da sua vida encontra-se no seu cérebro.
Partindo desse ponto, é importante ressaltar que o aborto, se legalizado, será feito
apenas até a 12ª semana de gestação. Por que isso acontece? Porque, de acordo com o estudo da embriologia humana, nosso sistema nervoso está, de fato, formado, apenas após a 12ª semana. Isso quer dizer que antes disso, no período em que será permitido o aborto, o feto não possui suas funções encefálicas. Não possuindo suas funções encefálicas, logo, de acordo com a lógica da morte e da biologia, o feto ainda não pode ser considerado ser humano, mas apenas um punhado de células que posteriormente evoluirão para se tornar um ser humano, caso a gestação seja levada adiante. E já aproveitando para matar dois argumentos com uma única cajadada: sem o seu sistema nervoso formado não é possível sentir dor, já que não existirão neurônios para transmitir as sensações.
Ninguém será insensível ou insensato o suficiente para permitir a realização de um aborto aos nove meses de gestação. Isso sim, seria desumano. Portanto, o aborto realizado antes da 12ª semana de gestação não machucará e não “assassinará” ninguém, pois ainda não existe alguém, de fato, para ser “assassinado”.
E quanto aos preservativos e métodos contraceptivos? A galera do contra-argumento adora utilizar esses artifícios para lançar o famoso discurso de que “só engravida quem quer”. Infelizmente essa galera talvez não tenha estudado direito, já que absolutamente nenhum método contraceptivo é 100% seguro. Não é minha intenção criar paranoias, mas é preciso dizer: é possível engravidar mesmo que se proteja de todas as formas possíveis. Pode ser mais difícil? Sim. Mas, nunca impossível. E para exemplos reais, acessem esse link e passem as fotos para a direita. São relatos reais de mulheres reais que se preveniram para evitar a gravidez e ainda assim engravidaram.
Além disso, é necessário ressaltar a falta de informação de grande parcela da população brasileira. É claro que para você, branco (a) da classe alta e com acesso à educação em escola particular, a gravidez será uma consequência de quem não se preveniu. Você, dentro da sua bolha de privilégios, teve acesso a todo e qualquer tipo de informação desde que se conhece por gente. Mas, já parou para pensar naquelas pessoas pobres, da favela, em sua maioria negras, que estão mais preocupadas em não morrer por bala perdida ou sustentar a família? Essas pessoas não vão receber o acesso à informação que você teve. E talvez, quando receberem, já será tarde demais.
Nem tudo pode ser explicado por simples “falta de vergonha na cara”. Às vezes a falta é de informação, e às vezes a falta é na verdade de segurança nos métodos contraceptivos. Ambos os fatores são extremamente capazes de implantar uma gravidez indesejada em uma mulher.
A religião é outro ponto importantíssimo na pauta dos argumentos do pessoal conservador, e tudo inicia com o famoso discurso: “sou contra o aborto porquê de acordo com a minha religião [...]”... e é aí que eu já devo parar a continuação desse argumento. Sua religião jamais deveria ser exemplo ou regra para nenhum assunto que envolvesse toda uma população. Sua religião foi uma escolha pessoal sua e somente sua, e nada tem a ver a sua escolha com a escolha daquela mulher que quer abortar. Para a nossa política, nossas leis e nossos direitos, de nada deveria importar o que a sua religião pensa sobre o assunto, já que a sua religião não é a única nesse mundo e nunca será (eu citaria o estado laico, mas aparentemente já virou folclore brasileiro). Pode ser a maioria? Pode, mas nunca a única. O que é a vida para você, não é a vida para outra religião, como já bem discutimos anteriormente nessa postagem. Se a sua religião não permite que o aborto seja realizado, é simples, não o faça. Mas, nunca, jamais, utilize a sua escolha, sua fé e sua religião para determinar os direitos de toda uma população de mulheres. Religião e política são duas coisas que jamais, em hipótese alguma, deveriam ser misturadas.
Além disso, é bastante irônico que tantos religiosos decidam atacar mulheres que abortam, já que 66% das mulheres que abortam são católicas e 25% são protestantes ou evangélicas. Chamar as próprias irmãs de assassinas vai de acordo com o que sua religião apoia, mas permiti-las o direito de fazer o que bem quiserem com suas vidas e seus corpos é abominável? A moral provavelmente está invertida.
Esses mesmos conservadores também se dizem pró-vida ao defender a criminalização do aborto, mas também propagam discursos como “bandido bom é bandido morto”. Afinal, de que vidas estamos falando? De todas ou apenas uma parcela delas? A vida é preciosa quando ainda dentro do útero, mas a partir do momento em que a criança nasce em um ambiente sem condição alguma de uma boa educação, saúde, segurança e outros aspectos básicos, e sucumbe ao tráfico para sobreviver da única maneira que encontrou, essa vida não é mais preciosa e deve ser eliminada? Reproduzindo uma fala vista na internet, posso concluir o pensamento de vocês: vocês não são pró-vida, são pró-nascimento. O que vem depois, não interessa a vocês.
Por fim, quero finalizar o assunto com o principal motivo pelo qual o aborto deveria sim ser descriminalizado: a simples e pura escolha da mulher de prosseguir com a gravidez ou não.
Por muito tempo nossas escolhas e nossos desejos têm sido ignorados, nas mais diversas pautas que podemos pensar. A forma como nos vestimos, os empregos que queremos ter, as profissões que desejamos seguir, o que queremos estudar, etc. A liberdade de escolha nunca foi algo facilmente concedido à mulher, e o aborto está nesse meio.
Por que nós, mulheres, responsáveis por carregar uma criança durante nove meses em nosso ventre e posteriormente, na maioria das vezes, criá-la praticamente sozinhas, não podemos ter o direito de decidir seguir ou não com uma gestação? São nossos corpos, são nossas escolhas. Escolhas essas que seriam facilmente concedidas caso fosse o homem o responsável por carregar o bebê em sua barriga e após o nascimento criá-lo sozinho.
É impressionante como em pleno século XXI, no ano de 2018, ainda precisamos explicar por que a escolha de manter uma gestação, em um corpo que me pertence, é necessária. É inacreditável como ainda precisamos explicar por que a descriminalização do aborto é importante.
O corpo é nosso, e as escolhas feitas sobre ele também deveriam ser.




Então é isso pessoal, espero que os pontos abordados tenham ficado bastante claros e espero que gere uma reflexão sobre a importância do tema no período atual do qual vivemos. Deixarei logo abaixo alguns links de vídeos e artigos que possam complementar a leitura da minha publicação e espero que façam bom uso destes. A discussão, como sempre, está aberta para aqueles que forem civilizados. Qualquer ofensa ou comentário agressivo será imediatamente excluído.
Até mais!

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