13
Reasons Why trata-se de uma série que conta a história de Hannah Baker, ou,
mais precisamente, do porquê ela se matou. A garota, após cometer suicídio,
deixa para trás 13 fitas gravadas contando os motivos que a levaram a fazer o
que fez, de certa forma responsabilizando algumas pessoas por fazerem-na sofrer
da forma que sofreu enquanto estava viva, levando-a a única opção que ela
achava que poderia curar sua dor.
A
série foi lançada no dia 31 de março de 2017, baseada no livro escrito por Jay
Asher. A adaptação alcançou grandes proporções e se tornou famosa e muito
querida por seus espectadores em um curto período de tempo, inclusive levando à
confirmação da produção da segunda temporada logo em seguida.
No
entanto, como nem tudo são flores, a série também foi duramente criticada ao
lançar a primeira temporada e não cumprir precisamente todas as
responsabilidades que deveria cumprir como mídia ao abordar assuntos tão
delicados, como o suicídio.
De
fato, na primeira temporada da série, diversos erros foram cometidos. Apesar de
terem colocado avisos antes dos episódios com cenas explícitas de abuso sexual
e suicídio começarem, não foi um aviso suficientemente bom para impedir que
pessoas sensíveis assistissem. Afinal, tais episódios acontecem apenas no fim
da temporada, e ninguém que já tenha se envolvido com a história irá pular
esses episódios. O correto seria ter alertado sobre o conteúdo pesado da série
antes mesmo do primeiro episódio começar.
Além
disso, outro fator importante que devemos considerar das críticas que 13
Reasons Why recebeu em sua primeira temporada, foi o fato de terem mostrado
explicitamente Hannah Baker se matando. De acordo com a OMS (Organização
Mundial da Saúde) existem algumas diretrizes importantes que a mídia deve
seguir ao abordar o tema suicídio, e não falar ou mostrar explicitamente como
uma pessoa se matou é uma dessas diretrizes. Isso se dá pelo fato de existir um
fenômeno popularmente chamado de “Efeito Wherter”.
Em
uma explicação rápida sobre o fenômeno e a história por trás deste, voltemos um
pouco no passado. No ano de 1774, um livro chamado “Os Sofrimentos do Jovem
Wherter” foi publicado pelo autor Johann Wolfgang von Goethe. Neste, o jovem
Wherter, em um dado momento da história, comete suicídio após a rejeição da
mulher que este amava, atirando em si mesmo com uma pistola. Em um determinado
período de tempo, começou-se a perceber que o mesmo comportamento estava sendo
imitado em certa proporção pelos leitores do livro, fazendo com que a obra
fosse banida em diversos lugares. Sendo assim, devido a esse acontecimento
histórico, começou-se a pensar a respeito do contágio suicida, que se trata
simplesmente de uma onda de suicídios copiados a partir de um que fora
amplamente divulgado.
Sabendo
então deste fato (que realmente existe, caso estejam se perguntando a respeito
da veracidade do mesmo), existem sim formas específicas de se abordar o
suicídio na mídia. Coisa que a série, em um primeiro momento, não se preocupou
muito em levar a sério.
Outro
ponto importante em relação às críticas recebidas no passado, foi a respeito da
pouca divulgação de canais que seus espectadores que precisassem do mesmo tipo
de ajuda que Hannah precisou poderiam ter contato, como por exemplo, um dos
canais que existem aqui no Brasil, o CVV (Centro de Valorização à Vida), que
tem o objetivo de te ouvir e estar ao seu lado quando as coisas parecerem
difíceis.
De
fato, a série, em sua primeira temporada, pecou nesse quesito. Não houve muita
divulgação desses canais, mesmo que tenham criado um site a partir da própria
série com o objetivo de atender essas demandas (13ReasonsWhy.info).
Outras
críticas foram feitas em relação ao fato de acreditarem que a série disseminava
mensagens de que a vingança e o suicídio eram a melhor opção, e que faltou
deixar mais claro que existem outras maneiras de aliviar a sua dor, outras
saídas mais seguras, como pedir ajuda aos familiares e amigos ou procurar por
um profissional da saúde. No entanto, em relação a essas críticas em
específico, não concordo de fato. Os próprios produtores da série falaram abertamente
sobre quais foram seus objetivos ao falar sobre assuntos tão pesados, e ir
contra o que os próprios criadores afirmaram pode se dar tanto por uma
perspectiva diferente enquanto assistia o conteúdo, quanto por uma simples
motivação para detonar a série já baseada em sentimentos negativos individuais
em relação a esta.
No
entanto, tirando algumas críticas que eu, particularmente, achei que foram
desnecessárias ou baseadas em uma má interpretação dos fatos, é evidente que 13
Reasons Why pecou em muitos aspectos e cometeu vários erros em 2017. O que
levou seus espectadores a esperar por uma vigilância e uma responsabilidade
maior no lançamento de sua segunda temporada.
A
segunda temporada foi lançada no dia 18 de maio de 2018. Como já era esperado,
a segunda temporada tomou proporções tão grandes quanto a primeira, e com
razão. Além de continuar abordando temas importantes da primeira temporada, a
segunda trouxe novas discussões, tais como: a justiça em relação ao assédio e
violência sexual, o tratamento que mulheres recebem socialmente por terem sido
abusadas ou por simplesmente escolherem ter uma vida sexual ativa, o machismo,
a importância de falar sobre a violência que se sofreu ou sobre a dor que se
sente, relacionamentos abusivos, as responsabilidades da escola em relação ao
bullying e aos seus alunos que sofrem com isso, etc.
A
segunda temporada da série chegou quebrando tudo, e mais importante que isso:
corrigiu todos os erros que cometeu em sua primeira temporada.
E
se você tem acompanhado os últimos posts em redes sociais ou artigos escritos
pela internet a fora em relação a série, deve estar se perguntando: “se a série
teve tantos aspectos positivos nessa segunda temporada, por que exatamente
tenho visto tantas críticas dizendo que 13 Reasons Why é uma série tóxica?”.
Bom, é a pergunta que tenho feito a mim mesma nos últimos dias.
As
críticas são basicamente as mesmas que foram feitas na primeira temporada,
acrescentando mais uma: de acordo com algumas pessoas, trata-se de uma série
perigosa para pessoas sensíveis e pode ser um gatilho para o suicídio ou o
sofrimento destas. Além disso, dizem também que o conteúdo explícito e chocante
nada mais é que uma forma de ganhar dinheiro, e não havia necessidade disso.
Se
essas mesmas críticas estivessem sendo feitas em 2017, após o lançamento da
primeira temporada da série, eu apoiaria. Afinal, como já foi falado aqui
anteriormente, 13 Reasons Why pecou em diversos aspectos perigosos para seu
público, deixando de cumprir suas responsabilidades como mídia ao abordar
assuntos tão delicados. No entanto, essas críticas estão sendo feitas agora, no
ano de 2018, após o lançamento da segunda temporada. E com isso, vou explicar o
porquê fazer essas críticas à segunda temporada não faz absolutamente NENHUM
sentido.
O
primeiro episódio da segunda temporada inicia com uma mensagem dos próprios
atores da série, falando sobre o conteúdo que seria abordado e como eles não
aconselhavam que pessoas sensíveis a este tipo de conteúdo continuassem
assistindo. Deixaram claro onde essas mesmas pessoas poderiam buscar ajuda caso
precisassem e terminaram com a mensagem: “quando você fala sobre, fica mais
fácil”. Abaixo, a transcrição da fala dos atores:
“Oi.
Sou Dylan Minnette e interpreto Clay Jensen.
Sou
Katherine Langford e interpreto Hannah Baker.
Sou
Justin Prentice. Interpreto Bryce Walker.
Sou
Alisha Boe. Interpreto Jessica Davis.
13
Reasons Why é uma série ficcional que aborda questões difíceis do mundo real,
como agressão sexual, uso de drogas, suicídio e muito mais.
Falando
sobre esses temas complicados, esperamos que nosso programa estimule uma
conversa.
Mas,
se você estiver passando por algum destes problemas, talvez esta série não seja
para você ou seja melhor assistir com um adulto confiável.
E,
se sentir que precisa conversar com alguém, fale com seus pais, com um amigo,
um orientador, ou um adulto em quem confia, ligue para um serviço de ajuda
local ou acesse 13ReasonsWhy.info.
Porque
quando você fala sobre o problema, fica mais fácil.
Se
você ou alguém que conhece precisa de ajuda, para encontrar auxílio, acesse
13ReasonsWhy.info”.
Além
disso, em todo final de episódio, após os créditos principais dos produtores da
série (que dura questão de segundos), o mesmo site criado para ajudar pessoas
que estejam passando por problemas semelhantes aos abordados na série aparece.
Nessa
temporada, ao contrário da primeira, apenas uma cena de violência explícita é
mostrada. E, mesmo antes deste episódio começar, outro aviso sobre o conteúdo
do episódio aparece.
O episódio seguinte contém representações gráficas de agressão sexual e abuso de substância, que alguns espectadores podem achar perturbador. É destinado a um público adulto. Critério espectador é aconselhado.
O
que eu quero dizer com todos esses fatos? Quero dizer que as críticas voltadas
para a segunda temporada não são coerentes. A série cumpriu suas
responsabilidades como mídia em alertar seus espectadores sobre o tipo de
conteúdo que encontrariam naqueles episódios. Alertou que não era aconselhável
que pessoas sensíveis assistissem e deixou mais do que claro onde essas pessoas
poderiam buscar ajuda caso precisassem. A partir do momento que a série cumpriu
com suas obrigações e você continuou assistindo, a responsabilidade deixa de
ser deles e passa a ser sua.
O
que mais tenho visto relacionado a essas críticas são justificativas ao afirmar
que a série é tóxica utilizando a opinião de pessoas depressivas como base. Não
é óbvio que um depressivo verá 13 Reasons Why como uma série tóxica? Como um
gatilho? A série não foi feita para que ele assista, e ainda assim, com todos
os avisos, ele se propôs a assistir. É claro que essa será sua opinião a
respeito da série! Isso significa que a mesma é ruim, deva ser boicotada,
retirada do ar e duramente criticada? Não!
13
Reasons Why, como os próprios atores e produtores fizeram questão de ressaltar
nessa segunda temporada, não foi feita para que pessoas sensíveis assistam (ou
assistam sozinhas). O conteúdo contido na obra não é bom emocionalmente nem
mesmo para pessoas “não-sensíveis”, que dirá para as que são! Não me parece
lógico seguir a opinião de alguém que obviamente achará a série tóxica para si,
de alguém para quem a série não foi feita.
Como
já foi ressaltado mais do que o suficiente nesse post, 13 Reasons Why tem o
objetivo principal de chocar e conscientizar para questões normalmente não
discutidas entre o público popular, fazendo com que esses mesmos assuntos
passem a ser pauta principal no assunto deste público. Porque é importante
falar sobre isso! É importante retirar esses tópicos da zona tabu. E a partir
do momento que você se propõe a basear a importância da série a partir do ponto
de vista de uma pessoa da qual não deveria ter assistido essa série devido a
sua característica sensível, você está prejudicando essa mesma pessoa. Afinal,
ao criticar, você afasta outras pessoas que deveriam estar assistindo a série e
se conscientizando sobre a mesma. Você afasta a oportunidade dessas pessoas entrarem
em contato com esses assuntos. Você mantém o suicídio, a depressão, o abuso
sexual e o bullying na zona de assuntos tabu, ressaltando a ideia de que estes
não devem ser discutidos de maneira alguma.
Sendo
assim, como devemos responder à pergunta feita no título dessa postagem? 13
Reasons Why é afinal uma série tóxica? Sim, ela é. Ela é uma série tóxica para
pessoas depressivas ou sensíveis aos assuntos abordados nesta. É uma série
tóxica para pessoas que não deveriam assisti-la. Para outras pessoas que não se
encaixam nessas características? Não, 13 Reasons Why não é uma série tóxica. É
uma série necessária. É uma série importante. Afinal, quantas outras vocês
conhecem que se propõem a falar sobre assuntos tão delicados com o intuito de
gerar uma discussão? Quantas outras vocês conhecem que tenham tomado tantos
cuidados como essa segunda temporada tomou? Quantas outras vocês conhecem que
tenham criado um site de suporte para pessoas que precisam de ajuda? Eu
acredito que quase nenhuma.
Portanto,
deixo meu apelo: não desmereçam a importância da série levando em conta o ponto
de vista de pessoas para quem a série não foi inicialmente feita e que deveriam
estar tomando os devidos cuidados para não entrarem em contato com assuntos tão
delicados. A importância da série está no fato de gerar uma discussão entre
pessoas que não estão cientes sobre as proporções que nossas ações podem tomar
em relação às pessoas a nossa volta. Está naquelas pessoas que precisam
enxergar a importância de não se tornar um “porquê” na vida de alguém. E a
partir do momento em que você desmerece essa importância, você contribui para
que esses assuntos continuem sendo um tabu. Você contribui para que mais
suicídios aconteçam. Você contribui para que o sofrimento continue em silêncio.
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