Olá pessoal, tudo bem? Antes de mais nada gostaria de pedir perdão pela falta de posts na semana passada. Tive uma crise de asma e não me senti disposta a fazer qualquer coisa. Ainda estou e recuperando, mas não posso deixar de postar aqui, então estou de volta!
Voltando a ativa, no post de
hoje trago um assunto do qual vem sido muito presente nos dias atuais e vem me
irritando de pouco em pouco pelo fato de estar sempre me deparando com os mais
diversos posts sem conteúdo, pesquisa, profundidade ou inteligência em sua
criação: a hiperssexualização de personagens (foco nas personagens femininas)
em jogos.
Devo lembrar que critiquei alguns
desses posts que vi, não porque eram contrários à minha opinião e muito menos
porque eu ache que o meu seja melhor. Critico porque é evidente que alguns
deles sejam a cara do senso comum.
Nos dias de hoje é muito fácil
você se deparar com milhares de pessoas (de ambos os sexos) atacando o
feminismo e todo e qualquer tipo de movimento que lute por direitos e
conscientização da população a respeito dos mais diversos problemas que
enfrentamos na sociedade. É muito fácil encontrar aquela típica pessoa que lê
alguns comentários no Facebook e se acha o maior entendedor de feminismo da
história, dizendo com a boca cheia que o feminismo é com certeza o contrário do
machismo. E, é claro, é também muito comum nos depararmos com posts
ridicularizando o desprezo que algumas mulheres sentem diante da hiperssexualização
das personagens femininas nos jogos como se não fosse um problema a se
preocupar.
De qualquer forma, o que estou
querendo dizer antes de finalmente expor minha opinião diante desse fato, é que
posso não ser uma especialista em assunto nenhum, mas vou analisar cada detalhe
desse problema extenso e complexo antes de soltar qualquer frase que todos
estão mais do que acostumados a dizer. Vou me esforçar ao máximo para que meu
post não se torne mais um daqueles sem conteúdo que esbarrei durante esse tempo.
Clique em continue lendo para saber mais.
“O mundo está chato”, diz a maior
parte das pessoas. “O mundo está se conscientizando”, diz... bem, eu e mais uma
parte das pessoas.
A mudança é evidente. Com as mais
diversas conquistas de direitos dos grupos mais oprimidos da sociedade e o
acesso muito mais fácil e rápido a informação, as pessoas estão melhores
informadas e conscientizadas sobre o que já conquistaram, o que deve melhorar e
o que ainda é um problema extremamente preocupante na comunidade em que se
inserem ou até mesmo em escala mundial. Elas podem tirar suas próprias
conclusões dentro de suas casas e criar movimentos contra ou a favor também de
suas casas. É, a internet tem seu lado bom.
É evidente o bem que a
conscientização e a informação fazem a um ser humano, e ainda mais evidente o
mal que fazem. Com esses novos fatores aflorando cada dia mais, as pessoas
estão enxergando problemas onde não deveriam ver, onde foram alienadas e criadas
para jamais notarem. Alguns dos exemplos que posso muito bem citar são:
ditadura da beleza, falta de representatividade em grande parte dos produtos
industrializados e, é claro, o assunto principal desse post, a
hiperssexualização de personagens (maioria femininos) em HQs, mangás, e
principalmente em jogos.
Para uma parte das pessoas, tudo
isso pode ser resumido a um simples “mimimi”. O que, é claro, é de se esperar
vindo de grupos que não tem o interesse em pensar ou procurar se aprofundar em
um assunto antes de, perdão pela fala, bostejar
na internet (ou até mesmo na vida real). Mas, como já alertei no início
desse post, pretendo abordar os diversos lados e perspectivas desse assunto em
particular e por fim, expressar minha opinião sobre cada um desses lados.
Por que é ofensivo?
Talvez seja óbvio o motivo pelo
qual a hiperssexualização é ofensiva, mas, mesmo assim, sinto-me na obrigação
de explicar como vejo essa característica, afim de não provocar nenhuma
confusão no decorrer do post.
Muitas mulheres e homens sofrem
com a autoestima baixa. É claro, isso acontece por diversos motivos, mas
principalmente pelo fato de sermos impostos a termos o corpo perfeito todos os
dias de nossas vidas das mais diversas maneiras. Seja por propaganda, pela
família, pelos amigos, pela mídia... somos vítimas de uma sociedade cruel que
tem como objetivo moldar as pessoas a apenas um corpo e aparência. O modelo que
aparentemente é considerado o mais “bonito”.
Portanto, criar personagens de
corpos irreais e “perfeitos” é apenas mais uma contribuição para a
autodestruição de algumas pessoas. Uma contribuição para o ódio por elas
mesmas.
E, é claro, o motivo principal da
hiperssexualização ser tão ofensiva, é a eficácia de mostrar que o personagem
(na maior parte, a mulher) não é muito mais que aquele corpo. É a maneira
perfeita de dar a ideia de que aquele personagem não tem conteúdo e não tem o
que ser mostrado que seja mais importante que bunda, peito e músculos. Isso
acaba reduzindo o sexo que o personagem representa (feminino ou masculino) a
apenas carne, beleza e sexualidade.
Eu (e com certeza muitas outras
pessoas), por exemplo, fico extremamente ofendida ao ver tantas personagens
femininas em jogos serem tão reduzidas a apenas corpos perfeitos feitos para
agradar aos homens. Isso remete a diversos outros problemas da nossa sociedade
e seus comportamentos. Isso ajuda a incrementar todo e qualquer comportamento
machista que ainda persiste em existir. Isso ajuda a reduzir as mulheres a
apenas objetos sexuais.
Por fim, a hiperssexualização nos
jogos é apenas mais uma maneira rude de ajudar as atitudes mais nojentas da
nossa sociedade a persistirem e continuarem a existir.
O lucro e o sucesso
Não posso falar de
hiperssexualização nos jogos sem mencionar o porquê ele existe.
Não sou nenhuma especialista em
jogos e não joguei muitos deles para relatar por experiência própria, mas já
pesquisei e me deparei com alguns deles o suficiente para saber que
hiperssexualizar um personagem tem um papel de extrema importância no ganho dos
lucros e no alavancar da empresa e do game produzido.
Já não é mais novidade para
ninguém que o que agrada uma grande parte das pessoas é sexo e tudo o que o
envolve; significando que jogos que não possam ou não pretendem abordar o
próprio ato possam abordar a sensualidade e a criação de personagens com corpos
perfeitos, exaltados nas partes mais peculiares e mais desejados pelo público
(mesmo que fora de qualquer realidade existente).
Portanto, podemos compreender
que, de certa forma, algumas empresas estão apenas utilizando dos recursos mais
procurados por seu maior público, apenas com a finalidade de lucrar e ter
grande sucesso com isso.
Sim, esse motivo pode ter sido
muito mais justificável e compreensível no passado, mas posso dizer com certeza
que atualmente, pode não ser tanto assim.
Beyond: Two Souls; Heavy Rain;
The Last of Us e Life is Strange são alguns games que conheço e posso citar
como exemplos de jogos que não precisaram utilizar de hiperssexualização de
personagens para fazer sucesso, dinheiro e fama. Pode parecer uma informação
incrivelmente nova para algumas pessoas, mas jogabilidade e história são dois
elementos que se bem trabalhados, vão fazer com que a importância de todos os
outros elementos seja diminuída; a definição dos tanquinhos e o tamanho dos
peitos dos personagens não precisarão ser utilizados para chamar a atenção do
público.
Além disso, como deixei bem claro
no início desse post, o mundo está mudando. As pessoas estão mais conscientes
sobre os problemas, e esse é um deles. Se os produtores de jogos não conseguem
se adaptar a essas mudanças, trazendo personagens mais humanos, menos
sexualizados, mais interligados a nossa realidade e mais respeitosos com a imagem
da maior parte das mulheres e homens, será mesmo que eles são dignos do nosso
dinheiro? Da nossa atenção? Do nosso feedback? Não para mim.
A partir do momento em que os
produtores de um game não conseguem ou se recusam a ouvir as reclamações de
jogadores que se sentem ofendidos com seus personagens hiperssexualizados,
penso que não merecem minha atenção.
Ninguém nunca vai conseguir
agradar ninguém. Mas, o mínimo que se deve ter é respeito. Não vai doer mudar a
perspectiva que se tem do jogo que criou para torná-lo mais respeitoso e
próximo da realidade da maior parte das pessoas. Aliás, foi o que aconteceu com
a personagem Lara Croft com o passar do tempo. Seu corpo hiperssexualizado foi
deixado para trás para dar espaço a uma nova era e explorar apenas a
personalidade e as habilidades da personagem.
Até mesmo a própria Barbie foi adaptada, criando
bonecas diferentes, originais e que exalam representatividade. Se isso
aconteceu com a mais famosa boneca loira, branca, magra, alta e de olhos azuis,
não vejo por que não adaptar esse modelo aos jogos.
Por que a ofensa é maior para a mulher?
Não, a hiperssexualização não é
um fator restrito a apenas personagens femininos nos jogos e outras áreas. Já
estamos mais do que cansados de vermos personagens masculinos repletos de
músculos altamente exaltados em seus uniformes super colados, normalmente, de
super-heróis. Mas, qual a diferença entre a hiperssexualização do personagem
masculino e do personagem feminino nos games?
O homem não tem, em seu histórico
de existência, muitas passagens e situações onde mulheres os escravizavam pelos
seus corpos. Não existe um histórico onde eles eram trancados em casa com
tarefas apenas de cuidar da casa, dos filhos e dar prazer a sua esposa. Não
existe um histórico tão longo quanto o feminino quando se trata de assédio,
estupro, violência e uso de seus corpos como simples e descartáveis objetos
sexuais. O homem jamais teve que lutar tanto para conseguir seus direitos de
ser ao menos considerado um ser humano quanto as mulheres tiveram. E mesmo
assim, depois de tantos anos de luta, ainda somos desvalorizadas, assediadas e
reduzidas a simples objetos sexuais pelo simples fato de sermos mulheres.
Portanto, o problema em hiperssexualizar uma mulher em um jogo acaba sendo dez
vezes mais problemático que no caso de um homem.
Não estou retirando a importância
e a gravidade da hiperssexualização masculina nos jogos, pois tenho consciência
de que somos todos seres humanos e devemos ser tratados com respeito
independentemente de sexo e outras coisas. Longe disso. O que estou querendo
explicar é que, na maior parte das vezes, quando se exalta essa característica
do homem nos games, é apenas para deixá-lo com um aspecto mais dominante,
macho, forte e foda. Tanto é que, antes de se agravar ainda mais a reclamação
das mulheres diante desse assunto, quase nenhum homem reclamava ou mostrava o
quanto o homem também é hiperssexualizado nos jogos. Quase ninguém se importava
e esse é justamente o ponto: quando os produtores do jogo decidem
hiperssexualizar o personagem masculino, eles apenas fazem pelo visual, e não
para ser o atrativo mais importante do mesmo. Quase ninguém se importa com a
aparência, a roupa ou os músculos do personagem masculino justamente porque
vivemos e fomos acostumados em uma sociedade que dá mais valor ao corpo
feminino no sentido sexual.
Portanto, reforçar a ideia de que o mais
importante em uma mulher é o seu corpo (de preferência o “perfeito”) é muito
mais preocupante do que no caso do homem, pois infelizmente ainda vivemos em
uma sociedade extremamente machista, e reforçar a ideia de que é normal ou
divertido hiperssexualizar as mulheres em um jogo, acaba reforçando também a
continuidade desse comportamento na vida real.
Pode passar despercebido para a
maioria das pessoas, mas a vida virtual e digital tem uma grande influência na
nossa vida real. E a partir do momento em que essa situação se agrava, é hora
de soltar a voz e agir!
Então é isso pessoal, espero que
tenham gostado e refletido sobre o post! E se gostaram, cliquem em curtir lá em
cima ao lado do título (não se esqueçam de confirmar) e comentem o que acharam!
Até mais!
Olá, Amanda! A cada vez que visito seu blog, fico mais impressionada com a relevância, seriedade e qualidade dos assuntos que vocês traz para o debate aqui no seu espaço.
ResponderExcluirFaz pouco tempo que descobri o que era a hiperssexualização (ô palavrinha difícil!) e como ela acontece. Mas me lembrei de um jogo de luta que eu conheço bem, o Tekken. Nele, os homens são todos muito musculosos, até mesmo o personagem que é idoso. Enquanto isso, as mulheres são sempre brancas e magras, e lutam usando pedaços de pano minúsculos, muito parecidos com a roupa da personagem que aparece nessa imagem do post. Em alguns momentos, quando ganham a luta, elas fazem gestos insinuantes, como rebolar e mandar beijos para a "plateia".
Me lembro que uma vez, numa discussão sobre isso, ouvi dizer que muitos homens gostam de escolher uma personagem feminina na hora de jogar, só para ficar por um bom tempo olhando a bunda de uma mulher (já que em muitos jogos, nós vemos o personagem de costas).
Enfim, a hisperssexualização está aí escancarada, e só não percebe quem não quer.
Gostei muito do post, adoro encontrar textos sobre assuntos sérios!
A hiperssexualização está em quase todos os lugares e é muito triste ver como as pessoas a ignoram ou a tratam como se não fosse um problema sério a ser discutido. Tento trazer esse tipo de conteúdo para o blog para ao menos abrir os olhos de quem se interessar em ler, e fico feliz que te agradem <3
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